KATY PERRY: O QUE ROLOU EM 2019 E COM O ÁLBUM SMILE?
- Leonardo Siqueira
- 2 de mai. de 2023
- 33 min de leitura
Atualizado: 15 de jun.

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Acabamos de entrar em maio, o mês oficial dos anúncios e lançamentos de Katy Perry. Tradicionalmente, esse período antecede o verão norte-americano, que é perfeito para o brilho e a projeção das divas pop. E como se não bastasse, em menos de uma semana, Katy se apresentará na coroação do Rei Charles, um dos eventos mais transmitidos do planeta.
Em uma entrevista recente, ela deixou claro: seus fãs, os katycats, receberão tudo o que merecem muito em breve. Por isso, preparei um post completo, repleto de informações que vão desde o fim da era Witness até os dias atuais.
O objetivo principal desse post é mostrar que o álbum Smile foi, sim, um trabalho recheado de faixas queridas — muitas delas consideradas "descartes" — que aqueceram o coração dos fãs durante a pandemia e em meio às grandes mudanças na vida da cantora.
Então, encontre uma posição confortável: o post é longo, mas promete muita nostalgia, curiosidades e amor pela nossa diva pop!

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O EXPERIMENTO DE 2019
Desde o fim da era Witness, Katy Perry veio se relacionando com assuntos de Love Light, desde o início de 2019, utilizando em redes sociais e em shows.

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Em seguida, Katy e sua gravadora optaram por lançar singles avulsos, com o objetivo de experimentar novos estilos e sonoridades, e foi exatamente isso que ela fez.
No dia 14 de fevereiro de 2019, Katy Perry lançou a faixa "365", uma colaboração com o DJ e produtor Zedd, que marcou o início de uma nova fase experimental em sua carreira.

A canção, um pop eletrônico sofisticado com produção de Zedd, Cutfather e PhD, foi composta por um time de peso que inclui Anton Zaslavski (Zedd), Katy Perry, Daniel Davidsen, Corey Sanders, Peter Wallevik, Caroline Ailin e Mich Hansen. Sua sonoridade discreta, mas envolvente, recebeu elogios da crítica especializada — a Rolling Stone a descreveu como um “amor hipnótico e leve”, enquanto a Spin destacou sua elegância dentro do universo pop-house. Entre os fãs, a música também foi bem recebida, especialmente pelo videoclipe conceitual que acompanhou seu lançamento.

No vídeo, Zedd interpreta um cientista que realiza um experimento de 365 dias com uma androide — vivida por Katy — programada para desenvolver sentimentos. A metáfora é evidente: a robô representa a própria cantora como objeto de um experimento emocional e artístico, sugerindo uma crítica sutil ao controle das gravadoras e à pressão por reinvenção constante. A narrativa visual se torna ainda mais significativa ao ser interpretada como uma alegoria da era Witness — marcada por recepção morna, desgaste público e episódios de depressão enfrentados por Perry. No desfecho do clipe, a androide é desativada após apresentar falhas, simbolizando o encerramento dessa fase instável. Antes de seu desligamento, ela enxerga outras três figuras femininas também robóticas — uma possível pista visual dos próximos três singles que viriam a ser lançados: “Never Really Over”, “Small Talk” e “Harleys in Hawaii”.

Em termos comerciais, "365" teve desempenho modesto, mas respeitável. Atingiu o topo das paradas em países como Bulgária e Israel, e obteve destaque em rankings de música eletrônica e dance na Austrália (Dance #5), México, Holanda e nos Estados Unidos, onde estreou na posição #86 da Billboard Hot 100.
No entanto, o impacto do single se estendeu para além dos números. A apresentação de Katy ao lado de Zedd no festival Coachella, em abril de 2019, foi um momento surpreendente e elogiado, demonstrando a potência de sua presença cênica e vocal.

Pouco antes disso, em março, os dois chamaram atenção no tapete vermelho do iHeartRadio Music Awards, com Katy trajando um look futurista que fazia referência direta à estética do videoclipe, reforçando a narrativa coesa da parceria.

Embora não tenha se consolidado como um grande hit comercial, “365” cumpriu um papel simbólico e estratégico na carreira de Perry. A faixa representou um recomeço cauteloso, mas ousado, sinalizando sua disposição em explorar novas sonoridades e conceitos visuais, ao mesmo tempo em que ensaiava uma transição entre o fim de uma era turbulenta e a construção de uma nova identidade artística — mais madura, autoconsciente e visualmente pensada.
Antes mesmo de iniciar oficialmente os trabalhos de divulgação de Smile , projeto ainda indefinido à época, cujos contornos começavam a ser sugeridos pelos “experimentos” metafóricos do clipe de 365 , Katy Perry protagonizou um movimento curioso e, em certa medida, atípico em sua trajetória ao integrar o remix de “Con Calma”, hit global do porto-riquenho Daddy Yankee em parceria com o rapper canadense Snow.

A versão original da música, lançada em janeiro de 2019, rapidamente se tornou um fenômeno nas plataformas digitais, impulsionada por seu ritmo dançante inspirado no reggaeton e pela releitura do hit dos anos 1990, "Informer".
A entrada de Katy Perry no projeto se deu de forma inesperada. Em busca de um "fator surpresa" para o remix, Daddy Yankee optou por evitar o previsível, ou seja, a escolha de outro artista da cena urbana latina. Foi então que o empresário Charles Chavez conectou a cantora americana aos produtores Play-N-Skillz, dando início à colaboração. Em menos de 24 horas, a dupla viajou de Miami para Los Angeles, onde Perry gravou todos os seus vocais em apenas uma noite.
O remix, lançado oficialmente em 17 de abril de 2019, marca um ponto fora da curva na discografia de Perry. Reconhecida por manter uma carreira relativamente isolada em termos de colaborações — especialmente no universo dos remixes —, sua participação em uma faixa de reggaeton, um gênero que dominava as paradas globais na época, foi vista com surpresa por fãs e críticos. A performance conjunta de Katy e Daddy Yankee no American Idol, reality no qual a cantora era jurada, reforçou o caráter promocional da parceria e ampliou seu alcance nos Estados Unidos.


Apesar de algumas críticas apontarem a natureza excessivamente comercial da colaboração, a versão remix foi bem recebida em termos de visibilidade e números. Ainda que não tenha superado o desempenho explosivo da versão original, o remix com Katy Perry ajudou a manter a faixa em alta rotatividade nas rádios e plataformas digitais, demonstrando o poder de um nome pop consolidado aliado a um ritmo em ascensão global.
Embora essa participação não dialogue diretamente com os temas centrais de Smile, nem com as teorias críticas aplicadas ao álbum, trata-se de um experimento sonoro e estratégico que não pode ser ignorado ao se estudar a trajetória artística de Katy Perry nesse período. A colaboração com Daddy Yankee representa, de certo modo, um primeiro ensaio de reinvenção — ou, ao menos, de reposicionamento — em meio a um cenário musical em constante mutação.

Dando início a esse novo plano, em maio de 2019, a estrela do pop lançou Never Really Over, marcando oficialmente o começo de sua fase experimental, uma tentativa clara, segundo fãs e fontes próximas, de reconectar-se com seu público mais antigo.

No videoclipe, o símbolo do Yin-Yang ganha destaque e pode ser interpretado como uma metáfora visual para o equilíbrio que Katy buscava naquele momento: a fusão entre a “antiga Katy” — cheia de cores, hits e excentricidade — e sua versão mais madura, introspectiva e evoluída.

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Mais do que um experimento sonoro, Never Really Over também marcou um avanço estratégico na carreira de Katy Perry.
Foi a primeira música da cantora a ganhar um videoclipe vertical exclusivo para o Spotify, um indicativo claro de que o projeto ia além da sonoridade. Tratava-se de uma adaptação consciente às novas dinâmicas da indústria musical, cada vez mais centrada no streaming e menos nas vendas físicas e digitais, que, historicamente, sempre foram um dos pontos fortes de Katy.
Com o lançamento da faixa, Katy e sua equipe também criaram o quadro Potty Jams, vídeos gravados de forma intimista, diretamente de um banheiro, em que ela se apresentava em versão acústica ao lado de suas backing vocals e músicos. As performances, compartilhadas exclusivamente no IGTV (formato em alta no Instagram na época), reforçavam a conexão direta e descontraída com os fãs.

Além disso, dias antes do lançamento oficial, a cantora promoveu um evento exclusivo no YouTube Space LA, onde apresentou Never Really Over para um grupo de fãs selecionados. O encontro contou com uma sessão de perguntas e respostas e até tatuagens temáticas feitas na hora, uma prova do engajamento emocional que a faixa já causava mesmo antes de sua estreia.


A primeira apresentação ao vivo aconteceu em agosto de 2019, durante um show especial para funcionários da Amazon nos Estados Unidos. O evento contou também com a presença de Lil Nas X e reforçou a exposição da faixa em ambientes corporativos e plataformas de streaming.

Para aquecer o lançamento, Katy também liberou uma prévia do videoclipe durante o programa matinal Good Morning America, aumentando a expectativa do público. Depois, publicou em suas redes sociais um vídeo com as reações dos fãs ao ouvirem a música pela primeira vez, destacando a empolgação genuína do público.
A divulgação nas redes sociais foi intensa: fotos promocionais, bastidores das gravações, trechos do clipe, vídeos no IGTV, entrevistas e interações diretas com os fãs. Em várias dessas ocasiões, quando questionada sobre um novo álbum, Katy afirmava que não havia um projeto definido, queria apenas “se divertir com a música”.
Essa postura chamou atenção, já que uma canção com tamanha divulgação normalmente estaria atrelada a um álbum. Foi aí que surgiu a teoria entre fãs e veículos especializados: Never Really Over seria a primeira fase de uma série de experimentos sonoros e visuais para testar a aceitação do público.

A faixa foi escrita por Katy Perry, Zedd, Dagny, Hayley Warner, Dreamlab, e Casey Smith, e produzida por Zedd e Dreamlab. Com uma letra emocional, arranjos pulsantes e um refrão envolvente, ela se tornou rapidamente uma fan favorite, sendo considerada por muitos KatyCats como a melhor música e o melhor videoclipe da carreira da cantora.
Never Really Over marcou o aguardado retorno de Katy Perry aos holofotes e às paradas de sucesso, após a recepção dividida do álbum Witness em 2017. A faixa alcançou a 12ª posição na Billboard Hot 100 e figurou entre as mais ouvidas globalmente no Spotify e no iTunes, sinalizando uma nova fase promissora em sua carreira. Pela primeira vez desde PRISM, Katy voltou a ser celebrada com entusiasmo pela crítica americana. Veículos como Billboard, Rolling Stone, E! News, Paper, USA Today e Idolator exaltaram a música como um verdadeiro renascimento artístico — um hino de término contagiante, descrito por muitos como sua melhor música em anos. “Never Really Over” foi aclamada por sua produção vibrante, vocais marcantes e melodia cativante, sendo considerada uma forte candidata a hit do verão. Alguns críticos destacaram que a faixa remetia aos dias de ouro de Katy, como em “Teenage Dream” e “Last Friday Night”, dizendo que ela finalmente entregava o que o público esperava: pop de altíssimo nível, feito com personalidade.

Infelizmente, mesmo com tamanho reconhecimento, a faixa acabou sendo tratada quase como um ‘single avulso’, servindo apenas como peça inicial para uma nova era que não seguiu o mesmo ritmo de investimento e exposição. A sequência de lançamentos — incluindo “Small Talk”, “Harleys in Hawaii” e “Daisies” — também foi bem recebida tanto por fãs quanto pela crítica, mas a oportunidade de consolidar aquele momento como um verdadeiro retorno triunfal acabou sendo enfraquecida por decisões estratégicas que priorizaram um projeto mais contido, intimista e fora dos moldes tradicionais de era pop, como seria o álbum Smile.

Prosseguindo com a estratégia, em 6 de agosto daquele mesmo ano, Katy Perry anunciou a segunda parte do experimento: a música Small Talk, que foi lançada oficialmente no dia 9 de agosto.A faixa foi escrita por Katy Perry, Jacob Kasher Hindlin, Johan Carlsson e Charlie Puth, e produzida por Johan Carlsson.
A canção apresentou uma sonoridade mais simples e diferente do habitual da cantora, com o objetivo de atingir um público mais jovem, que pudesse se identificar tanto com a leveza da música quanto com a estética divertida do clipe.
No videoclipe, ainda aparecem dois easter eggs importantes: um carro rosa (guarde essa referência!) e um fundo de praia — pistas visuais que antecipavam o seu próximo single.

Small Talk também recebeu um videoclipe vertical exclusivo para o Spotify, além de uma versão acústica no quadro Potty Jams.

Além disso, Katy realizou a primeira apresentação televisiva ao vivo de Small Talk no programa The Ellen DeGeneres Show. Durante sua participação, ela comentou sobre sua reconciliação com Taylor Swift, destacando a importância da amizade entre as duas artistas — um momento simbólico, considerando que dois meses antes Katy havia participado do clipe de You Need To Calm Down, de Taylor.

Dirigido por Tanu Muino, o clipe de Small Talk apresenta Katy Perry em um concurso de beleza canino, com destaque para sua cachorra Nugget. A produção, inspirada no clássico A Dama e o Vagabundo, combina humor e uma estética vibrante, reforçando a identidade visual única da artista.
Antes do lançamento do videoclipe oficial, Katy divulgou um lyric video animado e uma versão vertical da música, adaptada para plataformas móveis, ampliando o alcance da faixa nas redes sociais.

Para manter o interesse pela música, foram lançadas versões remixadas de Small Talk pelos DJs White Panda, Sofi Tukker e Lost Kings. Esses remixes ofereceram novas interpretações da faixa, atraindo públicos variados e ampliando sua presença nas plataformas de streaming.
Small Talk alcançou a 81ª posição na Billboard Hot 100 nos Estados Unidos, 56ª no Canadá, 33ª na Austrália e 43ª no Reino Unido. Apesar de não atingir o topo das paradas, a música consolidou-se como parte da estratégia de Katy Perry de explorar novos estilos e conectar-se com diferentes audiências.
Um destaque importante na divulgação de Small Talk foi a presença da música na capa da principal playlist editorial do Spotify, a Today's Top Hits, uma das listas mais influentes e seguidas globalmente. Estar em destaque nessa playlist significa uma enorme visibilidade, pois ela reúne milhões de ouvintes ativos que buscam as novidades e os maiores hits do momento.

Essa conquista não acontece por acaso: para garantir espaço na capa de playlists tão concorridas, as gravadoras investem estrategicamente em campanhas de promoção e trabalham em parceria com os curadores do Spotify, apresentando o single com antecedência e evidenciando seu potencial comercial.
Para Katy Perry, ser capa da Today's Top Hits com Small Talk foi um reconhecimento importante, que ajudou a ampliar o alcance da faixa, impulsionar os streams e conectar a música a um público jovem e antenado, alinhado à proposta mais leve e moderna da canção. Até 2025, essa foi a única vez que Katy foi capa dessa playlist.

Como previsto, a última etapa do experimento foi lançada no fim de 2019, mais precisamente em 16 de outubro: Harleys in Hawaii.
A faixa foi escrita por Katy Perry em parceria com Charlie Puth, Jacob Kasher Hindlin e Johan Carlsson, e produzida por Johan Carlsson.
Com uma estética praiana e atmosfera envolvente, o clipe entrega exatamente o que os easter eggs anteriores vinham sinalizando. A música tem uma sonoridade sensual e suave, voltada para um público mais maduro — ainda que mantenha o inconfundível toque de Katy Perry.

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Se você observar com atenção, o mesmo símbolo do Yin-Yang que aparece no clipe e nas divulgações de Never Really Over também está presente em Harleys in Hawaii, sugerindo que o ciclo experimental foi cuidadosamente construído, iniciado em Never Really Over e finalizado em Harleys in Hawaii.
Assim como as outras faixas do projeto, Harleys in Hawaii ganhou um videoclipe vertical exclusivo para o Spotify e sua própria versão no quadro Potty Jams.

Antes mesmo do lançamento oficial, vazaram takes e vídeos da cantora gravando o clipe de Harleys in Hawaii direto do Havaí, o que gerou muita expectativa entre fãs e mídia.

Katy chegou a gravar vídeos promocionais dentro da empresa Harleys, fazendo uma conexão direta com o tema da música e ampliando o engajamento da campanha.

Nas redes sociais, ela compartilhou diversos bastidores do processo de gravação do clipe, com imagens descontraídas, ensaios e detalhes da produção, aproximando ainda mais os fãs do projeto.

O desenvolvimento de Harleys in Hawaii teve uma recepção bastante positiva tanto na mídia quanto nas plataformas de streaming, consolidando-se como uma faixa que destacou a versatilidade e a maturidade musical de Katy Perry em 2019.
Nos streamings, Harleys in Hawaii teve um bom desempenho, especialmente em playlists de verão e vibes chill, o que ajudou a manter a música relevante meses após o lançamento. A faixa entrou em várias playlists editoriais importantes do Spotify, Apple Music e outras plataformas, o que ampliou seu alcance para além dos fãs tradicionais de Katy Perry.

Embora não tenha alcançado picos altíssimos nas paradas globais, a música manteve um desempenho estável e foi bem recebida pelo público, conquistando espaço em rádios e playlists focadas em pop e música leve.
Anos depois do lançamento, Harleys in Hawaii acabou viralizando no TikTok, ganhando uma nova onda de popularidade entre usuários da plataforma. Curiosamente, apesar do ressurgimento do interesse e do potencial comercial dessa viralização, a gravadora não aproveitou essa oportunidade para relançar ou promover a faixa oficialmente, deixando o fenômeno mais orgânico do que estratégico. Isso gerou certa surpresa entre fãs e observadores do mercado, que esperavam uma ação promocional para capitalizar o sucesso tardio da música nas redes sociais.

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Apesar da boa recepção do experimento com os três singles lançados, ainda assim não ficou claro quando Katy Perry lançaria um álbum novo ou mesmo o primeiro single oficial da nova era.

Em meio a essa expectativa, em 2018, ela lançou Cozy Little Christmas em uma parceria exclusiva com a Amazon Prime Music. A faixa foi reaproveitada no Natal de 2019, quando finalmente recebeu lançamento mundial e ganhou um videoclipe oficial.
Vale destacar um ponto importante dessa fase: para promover Cozy Little Christmas, Katy deu início à campanha “25 Days of Cozy” — uma ação especial que presenteou os fãs com conteúdos e surpresas diárias entre 1º e 25 de dezembro, culminando no Natal.
Durante a campanha, a cantora divulgou fotos promocionais, realizou sorteios de sapatos e lançou o videoclipe da música. Quando chegou o dia 25, muitos esperavam uma grande surpresa, mas o que veio foi um simples vídeo em que Katy agradeceu aos fãs e desejou um Feliz Natal.
Não houve, no entanto, nenhum lançamento ou anúncio de nova data para o próximo single ou álbum. Curiosamente, alguns fãs sortudos receberam um presente atrasado dessa campanha: a placa do carro rosa do clipe de Small Talk, autografada pela cantora. Próximo à assinatura, é possível ler o mês de fevereiro, acompanhado da mensagem “Love. Light.” um detalhe que despertou curiosidade e alimentou especulações sobre os próximos passos da artista.

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Vale lembrar que 365, lançada em 14 de fevereiro, completaria um ano no mês seguinte ao recebimento dessas placas. Essa data, portanto, marcaria o fim do teste de Zedd (presente no clipe) e possivelmente o encerramento do experimento dos singles.
Além disso, no clipe de Never Really Over, é possível observar os números “4 1/2” e “5”, que, invertidos, formam “02/14” — a data de lançamento de 365. O número 5 pode ser interpretado como uma referência ao quinto álbum da discografia de Katy Perry.
Também vale destacar que o dia 14 de fevereiro cairia numa sexta-feira, data tradicionalmente considerada ideal para lançamentos musicais, reforçando a expectativa em torno desse possível anúncio.

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Vale lembrar que em 2007 a norte-americana lançou o clipe de “Ur So Gay“.
No clipe, é possível ver uma placa de carro com a data de lançamento do seguinte vídeo do álbum “One Of The Boys“.
Agora vamos relembrar que o clipe estava indisponível no YouTube até alguns meses atrás e acabou sendo disponibilizado, possivelmente, para nos avisar que algo aconteceria em fevereiro.

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Apesar de todos eastter eggs e suposições, nada foi lançado em em fevereiro de 2020. E é ai que entra em ação toda minha teoria.

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Em 5 de março de 2020, Katy Perry lançou Never Worn White, uma faixa intimista escrita por ela em parceria com Jacob Kasher Hindlin e produzida por Johan Carlsson.
A música marcou um momento muito especial, pois foi nela que Katy anunciou publicamente sua gravidez.
O lançamento ocorreu em um contexto delicado: naquele mês, a pandemia de Covid-19, oficialmente declarada em janeiro daquele ano, já começava a se espalhar pelo mundo, trazendo incertezas e instabilidade para a indústria musical e para a vida de todos.

Musicalmente, Never Worn White apresenta uma balada pop com arranjos orquestrais, destacando a voz emotiva de Katy e a mensagem pessoal da canção. Nos charts, a faixa teve desempenho moderado, entrando em diversas paradas internacionais, mas sem alcançar o topo das principais listas, refletindo o cenário atípico e o foco mais intimista do projeto.
O videoclipe, dirigido por Loris Russier, acompanha a cantora em cenas simbólicas e delicadas, com uma estética sóbria e emocional que reforça o tema da música e o anúncio da gravidez. A produção do clipe aposta em imagens que transmitem vulnerabilidade e esperança, com um visual elegante e minimalista, em contraste com as produções mais elaboradas e coloridas dos lançamentos anteriores.

Embora Katy pudesse ter planos para um projeto grandioso, a combinação da gravidez e o impacto da pandemia fizeram com que ela optasse por dar um passo para trás, ajustando sua carreira e prioridades diante da nova realidade global.

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Dois meses após o lançamento de Never Worn White, Katy Perry finalmente anunciou o tão aguardado KP5, ainda sem nome oficial, por meio do single Daisies.
A faixa foi lançada em 15 de maio de 2020, acompanhada de um videoclipe simples e intimista, gravado no quintal da casa da cantora, com a ajuda apenas de uma fotógrafa.
Daisies foi escrita por Katy Perry, Jon Bellion, Michael Pollack, e Jordan Johnson & Stefan Johnson (os membros da produção The Monsters & Strangerz), que também assinaram a produção da faixa.
A música soa como um hino de força e resistência, uma mensagem que Katy envia para si mesma, mostrando que ela ainda estava “no jogo”, apesar das críticas da mídia e dos chamados “flops”, além de ser uma homenagem à sua filha, que ainda estava para nascer na época.
Katy Perry e sua gravadora fizeram uma promoção focada e estratégica para o lançamento de Daisies. A divulgação começou com teasers nas redes sociais, gerando curiosidade entre os fãs sobre o novo som e a fase pessoal da cantora. O videoclipe intimista, filmado em casa, reforçou a conexão emocional da música, mostrando uma Katy vulnerável e autêntica em um momento delicado de sua vida. Além disso, Katy realizou diversas performances ao vivo em programas de TV e eventos virtuais, como no American Idol e no Good Morning America, para dar visibilidade à faixa. Também utilizou suas redes sociais para compartilhar bastidores e mensagens pessoais, mantendo o engajamento com seu público.
Nos charts, Daisies teve uma performance moderada. Nos Estados Unidos, a faixa entrou na Billboard Hot 100, alcançando a posição 40, o que é considerado um desempenho razoável, mas não um grande hit para os padrões da cantora. Em plataformas de streaming, como Spotify e Apple Music, a música teve um bom número de plays nos primeiros dias, especialmente entre os fãs mais dedicados, mas não chegou a se consolidar entre os grandes sucessos do ano. Globalmente, Daisies teve mais destaque em alguns mercados específicos, como no Reino Unido e Austrália, onde chegou a entrar no top 40 das paradas locais.
Além disso, Daisies alcançou o topo do iTunes nos Estados Unidos, chegando à posição #1 — um feito significativo, já que foi o primeiro single de Katy Perry a atingir esse posto desde Rise em 2016. Esse sucesso no iTunes demonstrou o forte apoio dos fãs, mesmo que a música tenha tido uma performance mais modesta nas paradas gerais de streaming e rádio. Esse resultado reforçou a importância da base fiel de seguidores da cantora e o impacto da promoção digital e nas redes sociais feita pela gravadora e pela própria Katy.

Para promover o single, Katy fez performances em programas de TV de grande audiência como Good Morning America, The Tonight Show Starring Jimmy Fallon e The Ellen DeGeneres Show, além de participar de entrevistas em rádios e podcasts onde falou sobre a música e o processo de criação do álbum
Vale lembrar que, na época do lançamento de Never Really Over (maio de 2019), Katy deixou claro que a canção não fazia parte de um álbum completo e que estava lançando músicas avulsas para seus fãs.
Menos de dois meses após o lançamento de Daisies, em 28 de julho de 2020, Katy revelou a faixa Smile, que daria nome ao álbum completo, com lançamento marcado para 14 de agosto de 2020. Sobre a faixa-título, Katy comentou: “Eu escrevi a faixa Smile quando estava passando por um dos períodos mais sombrios da minha vida e perdi meu sorriso. Todo esse álbum é minha jornada em direção à luz — com histórias de resiliência, esperança e amor.”
Antes mesmo do anúncio oficial da faixa Smile, uma versão vazada apareceu na internet. Essa versão era uma colaboração entre Katy Perry e Diddy, intitulada Smile (I’m Grateful), mas a versão oficial lançada no álbum foi apenas a solo, sem a participação de Diddy (graças à Deus!!!!).

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Após anunciar o nome e a data de lançamento do álbum, marcada para 14 de agosto de 2020, Katy Perry lançou a série Smile Sundays, uma sequência de lives semanais pela plataforma Zoom que aconteciam aos domingos.
Nessas transmissões, os fãs podiam enviar perguntas ao vivo e descobrir mais detalhes sobre o álbum que estava por vir.
Ao todo, foram três domingos consecutivos de lives, que Katy usou para promover os produtos oficiais da era Smile — os merch personalizados — além de mostrar as versões alternativas das capas do álbum. No último programa, ela revelou trechos de todas as faixas do disco, oferecendo aos fãs uma prévia completa do trabalho.
Durante as lives, Katy deixou claro que o conceito central de Smile era a superação da depressão e a redescoberta de um sorriso genuíno, em contraste com os sorrisos falsos que muitas vezes oferecemos para agradar os outros. A cantora afirmou que sua ambição com esse álbum não era mais buscar o topo das paradas, algo que ela já havia alcançado diversas vezes ao longo da carreira. Agora, seu foco era criar uma conexão verdadeira com seus fãs e, se possível, trazer cura para aqueles que enfrentam momentos difíceis, assim como ela própria enfrentou.
Uma curiosidade compartilhada por Katy durante as lives foi que a capa principal do álbum já havia sido fotografada antes mesmo de ela ter certeza se lançaria o projeto ou mesmo se já tinha definido o nome. Isso porque a cantora costuma realizar ensaios temáticos regularmente para alimentar suas redes sociais e ter materiais prontos para eventuais divulgações. Apenas dias antes do lançamento oficial, ela fez uma sessão exclusiva para as capas alternativas, na qual já estava grávida. Ela narrou com emoção a experiência de entrar no canhão retratado em uma das imagens, reforçando o caráter pessoal e simbólico do projeto.
Essa estratégia de aproximação via Smile Sundays reforçou o engajamento dos fãs, gerou um clima íntimo e autêntico em meio a um período difícil globalmente, e foi fundamental para a divulgação do álbum em uma época em que eventos presenciais estavam impossibilitados pela pandemia.

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Finalmente, o álbum Smile não foi lançado no dia 14 de agosto de 2020, como inicialmente anunciado por Katy Perry, mas sim duas semanas depois, em 28 de agosto de 2020.
A cantora comunicou, durante seu último episódio do Smile Sundays, que o atraso aconteceu porque a equipe ainda estava finalizando as mixagens do álbum.
Curiosamente, Katy deu à luz sua filha Daisy apenas dois dias antes do lançamento oficial do disco.

O álbum teve forte presença digital, incluindo campanhas promocionais nas redes sociais (Instagram, Twitter, TikTok e YouTube), além de entrevistas exclusivas em grandes veículos de mídia, programas de TV e rádios.
Devido à pandemia, as performances ao vivo aconteceram majoritariamente de forma virtual ou em eventos especiais na TV. Katy apresentou faixas do álbum em programas e premiações, além de fazer uma performance especial no American Idol, onde era jurada, como forma de promover o álbum.
Os videoclipes lançados para o álbum variaram entre versões oficiais, acústicas e alternativas, reforçando o engajamento visual da era.
Nas redes sociais, Katy manteve postagens constantes com teasers, bastidores, vídeos pessoais mostrando sua gravidez e o making of do álbum. Ela também explorou filtros e desafios no TikTok relacionados às músicas, além de colaborar com influenciadores para ampliar o alcance do projeto.
Além disso, Katy participou de diversos podcasts e entrevistas em revistas de música, cultura pop e lifestyle, ampliando o alcance da divulgação e falando abertamente sobre sua vida pessoal, os desafios enfrentados e o processo criativo do álbum.
A produção executiva de Smile foi assinada por Katy Perry em parceria com vários produtores renomados, incluindo The Monsters & Strangerz, Johan Carlsson, Jon Bellion, entre outros colaboradores, que ajudaram a construir a sonoridade pop vibrante e emocional do projeto. É curioso notar que, diferente de seus álbuns anteriores, que contaram com produtores oficiais fixos, como Dr. Luke em Teenage Dream (2010), Greg Wells em Prism (2013) e Max Martin em Witness (2017) — Smile optou por uma abordagem mais colaborativa, o que pode explicar a diversidade de estilos e sonoridades presentes no disco.
Apesar do cenário instável causado pela pandemia, o álbum estreou no top 10 da Billboard 200, demonstrando boa receptividade.

Acho que já deu para perceber que o lançamento do álbum Smile não seguiu uma linha clara e linear. Os acontecimentos pessoais de Katy Perry — sua gravidez e o nascimento da filha Daisy — somados ao auge da pandemia de covid-19, acabaram ofuscando e atrasando o projeto. Além disso, é importante lembrar que algumas faixas lançadas em 2019, como Never Really Over e Harleys in Hawaii, foram incorporadas ao álbum, o que deixou o processo ainda mais confuso para os fãs, já que essas músicas originalmente pareciam parte de projetos avulsos.
Outro ponto que chama a atenção é a verdadeira “salada” de produtores envolvidos em Smile. O álbum não contou com um produtor principal ou executivo definido, o que é incomum para um projeto de grande porte como esse.
Tudo isso reforça a ideia de que Smile foi um álbum de transição, um presente feito com muito carinho, mas que sofreu com a complexidade da situação vivida pela artista e pelo mundo naquela época.
Vamos para minhas teorias?
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Minha primeira teoria é exatamente essa: a arte do álbum Smile parece ter sido feita às pressas — ou no mínimo, montada de forma improvisada.
Para quem acompanha a carreira de Katy Perry de perto, isso fica bastante evidente. O encarte do álbum destoa completamente dos padrões visuais bem amarrados que a cantora sempre apresentou em seus projetos anteriores. Aqui, as imagens simplesmente não conversam entre si.
Ao analisar o material gráfico, é possível perceber que as fotos vieram de sessões diferentes. A imagem da capa, por exemplo, é reaproveitada em outras páginas, mas não tem relação visual ou temática com as fotos em que Katy segura uma torta ou leva uma tortada no rosto — essas, inclusive, foram tiradas em outra ocasião.
E ainda há os cliques com balões, usados nas capas alternativas do álbum, feitos mais adiante, quando ela já estava visivelmente grávida. A própria cantora chegou a comentar sobre o desconforto de entrar em um canhão cenográfico durante essa sessão.
Essa mistura de referências, estéticas e momentos reforça a sensação de que o encarte foi montado em cima da hora, sem uma direção criativa única. Diante das circunstâncias (pandemia, gravidez avançada, ajustes de última hora) é provável que a equipe tenha precisado adaptar o projeto com o que já estava disponível, recorrendo a ensaios anteriores e complementando com o que foi possível produzir.
O resultado final, embora visualmente bonito em alguns momentos, carece da coesão que marcou álbuns anteriores da artista, como Teenage Dream (com direção visual de Will Cotton) ou Prism (que teve todo um conceito cromático e místico guiando o projeto).

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Minha segunda teoria é que sim, havia algo maior sendo desenvolvido em 2019, antes mesmo do conceito de Smile tomar forma.
O álbum acabou assumindo um formato quase visual — todas as faixas receberam algum tipo de vídeo no YouTube, seja com animações, performances gravadas ou clipes simplificados. Mas o que realmente chama atenção é como certos elementos parecem ter sido reaproveitados de um projeto anterior, que provavelmente foi engavetado ou reformulado com o tempo.
Um dos maiores exemplos disso é a faixa Champagne Problems, oitava do álbum.
Além de ter uma estrutura bastante simples, com composição e produção menos elaboradas para os padrões da Katy, a música é curta, repetitiva e não traz grande desenvolvimento lírico ou sonoro. Porém, o que realmente levantou suspeitas entre os fãs foi o visual associado à faixa. No clipe, que se resume a um único frame em looping, Katy aparece visivelmente não grávida e usando a mesma maquiagem presente nos videoclipes verticais de Small Talk e Harleys in Hawaii. Trata-se também da mesma make usada na capa oficial de Small Talk, lançada como single solto em 2019.
Essas coincidências visuais sugerem fortemente que o material visual de Champagne Problems foi produzido na mesma época daqueles singles de 2019, que hoje são vistos como "testes de público" para o que viria a ser o próximo álbum.
Isso levanta a hipótese de que havia, de fato, um projeto em construção antes de Smile, com outra direção estética e talvez até uma proposta mais ousada — que acabou sendo deixada de lado ou diluída conforme a vida pessoal de Katy e o cenário global mudaram drasticamente.
No fim, Smile parece ter reunido fragmentos de várias fases criativas: faixas compostas em momentos distintos, clipes feitos antes da gravidez e visuais adaptados conforme a pandemia impôs limitações. Tudo isso reforça a ideia de que o álbum, apesar de carregado de significado pessoal, também nasceu de improvisos, reaproveitamentos e mudanças de rota.

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A única diferença perceptível entre as maquiagens é a cor do batom e a intensidade do traço na pálpebra inferior da cantora.
Vale ressaltar que, ainda em 2019, Katy compartilhou algumas fotos de bastidores em camarins — nelas, é possível ver perucas, detalhes da maquiagem, araras com roupas e acessórios. E, se olharmos com atenção... está tudo lá. Os looks usados nas capas dos singles lançados naquele ano (Small Talk e Harleys in Hawaii), bem como o visual completo de Champagne Problems — incluindo peruca, maquiagem e acessórios — estão presentes nessas imagens.
Uma montagem feita pelo usuário @whenimdan no X (antigo Twitter) mostra de forma clara essas conexões visuais, reforçando a ideia de que algo maior estava sendo planejado por Katy e sua equipe em 2019. Se esse projeto era, de fato, a era Smile como a conhecemos hoje, nunca saberemos com certeza. Mas os indícios estão aí — e apontam para um planejamento visual e conceitual bem mais sólido do que o que acabou sendo entregue no produto final.


A minha terceira teoria é a de que Smile não foi concebido desde o início como um álbum, mas sim montado a partir de músicas que a Katy já havia gravado ao longo dos anos — faixas que ela gostava, que faziam sentido emocionalmente para ela, mas que não estavam, necessariamente, destinadas a fazer parte de um mesmo projeto. É como se o álbum fosse um compilado afetivo, reunindo diferentes momentos criativos vividos em turnês, sessões isoladas e até mesmo gravações à distância, em vez de seguir uma linha de produção coesa desde o começo.

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Nem sempre um álbum nasce de sessões contínuas ou de um processo criativo centralizado em um único estúdio — especialmente no caso de artistas com agendas intensas, como Katy Perry. A própria cantora já afirmou em diversas entrevistas que está sempre em estúdio, compondo e gravando músicas conforme surgem ideias e oportunidades, muitas vezes sem um destino específico para esses materiais.
No entanto, quando chega o momento de construir um álbum completo, é comum que o artista, junto à sua equipe de produtores, músicos e engenheiros de som, se reúna — seja com frequência ou em encontros pontuais — para alinhar conceito, estética e sonoridade.
Com Smile, essa estrutura tradicional de álbum parece ter sido deixada de lado. O projeto soa, em muitos momentos, como uma coletânea de faixas queridas por Katy, gravadas ao longo de diferentes fases da sua vida, mas que não foram originalmente pensadas para coexistirem em um mesmo álbum.
Essa sensação de compilado afetivo fica evidente na forma como o álbum foi montado: as faixas foram gravadas em estúdios espalhados por várias partes do mundo — Sydney, Estocolmo, Los Angeles, Hollywood, Venice, Santa Barbara (sua cidade natal) e Burbank. Essa variedade geográfica sugere que muitas músicas surgiram de momentos diferentes, provavelmente compostas e registradas em turnês, viagens ou em períodos isolados.
Um exemplo curioso é a faixa Cry About It Later, que, segundo a própria Katy, nasceu da mesma ideia que originou Teary Eyes. Ambas eram, inicialmente, uma única canção, que depois foi dividida e retrabalhada. Cry About It Later, especificamente, foi escrita e pré-gravada logo após o show de Katy no Glastonbury Festival de 2017, em um momento em que ela estava visivelmente abalada, ainda lidando com o impacto emocional da recepção ao álbum Witness.
Outro ponto importante é a ausência de um produtor principal. Smile conta com uma grande variedade de produtores, compositores e engenheiros — algo que, por si só, não é necessariamente negativo, mas que reforça a ideia de que as músicas foram desenvolvidas em contextos diferentes e reunidas posteriormente. A falta de uma direção central clara contribui para a sensação de que o álbum foi, em parte, “costurado” a partir de peças soltas.
Em resumo, tudo leva a crer que Smile é menos um álbum planejado de forma coesa e mais uma espécie de diário musical: um compilado de faixas que Katy fez e gostou muito ao longo dos anos, e que, por motivos diversos, acabou reunindo em um projeto só. Um álbum que carrega afeto, memórias e fases da artista, mas que não necessariamente nasceu como um álbum — e talvez por isso tenha essa atmosfera um pouco desconexa, porém honesta.

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Minha quarta teoria envolve a mensagem da Katy, o baixo investimento promocional, a forma como o álbum foi comunicado ao público, o storytelling da era e até a forma como a versão deluxe foi construída.
A última faixa da versão original do álbum Smile não é uma música, mas sim uma mensagem em áudio gravada pela própria Katy Perry. Nela, ela agradece aos fãs pelo apoio incondicional e explica que o álbum representa sua jornada pessoal de superação — um esforço para reencontrar o sorriso após o turbilhão emocional vivido nos anos anteriores. Desde a era Witness, lançada em 2017, a cantora enfrentava uma onda de críticas, queda de prestígio na mídia e até depressão, o que ela reconheceu publicamente em várias entrevistas.
Ao contrário de seus álbuns anteriores, Smile teve uma divulgação mais discreta e intimista, fortemente impactada pelas restrições impostas pela pandemia de Covid-19. As promoções se concentraram em lives, entrevistas via Zoom e apresentações em programas de TV com estrutura reduzida — inclusive no Caldeirão do Huck, no Dentro da Casinha de Anitta e também no Programa da Maisa. Apesar disso, Katy Perry realizou diversas performances virtuais marcantes para promover o álbum, mesmo durante a gravidez.



Em maio de 2020, ela apresentou "Daisies" no final da 18ª temporada do American Idol, utilizando tecnologia de realidade aumentada para criar um ambiente virtual interativo. No mesmo mês, participou do Good Morning America, dando início à série de concertos de verão do programa. Além disso, realizou apresentações em eventos como o Houseparty's In the House e o Dear Class of 2020 no YouTube.




Em junho, Katy participou do concerto beneficente Can't Cancel Pride, voltado para a comunidade LGBTQ+, onde apresentou uma versão remixada de "Daisies" com elementos de seus sucessos anteriores. Em julho, foi destaque no festival virtual Tomorrowland, entregando uma performance visualmente impressionante com cenários digitais e animações temáticas para músicas como "Smile" e "Daisies".


Essas apresentações demonstram o esforço de Katy Perry em adaptar a promoção do álbum às circunstâncias desafiadoras da época, mantendo o engajamento com os fãs por meio de plataformas digitais e performances criativas, mesmo diante das limitações impostas pela pandemia.
Essa postura contrasta fortemente com as divulgações anteriores de Katy, que sempre apostou em campanhas grandiosas, criativas e fora do convencional. Para promover o Witness, por exemplo, ela se trancou por 72 horas em uma casa com câmeras ao vivo transmitindo tudo — um verdadeiro reality show chamado Witness World Wide, com direito a convidados, reflexões públicas e até um show exclusivo no final da transmissão. O projeto chamou atenção do mundo inteiro, culminando em um show ao vivo de encerramento exibido para milhões de pessoas.

Já na era Prism (2013), Katy promoveu o álbum com o icônico caminhão dourado com o nome do disco estampado, que circulou por várias cidades dos Estados Unidos e virou até meme entre os fãs. Além disso, para o lançamento de Chained to the Rhythm, single do álbum Witness, ela espalhou discos em jukeboxes personalizadas com uma bola de espelhos (disco ball) em diversas cidades ao redor do mundo — um jeito inusitado e interativo de fazer os fãs "caçarem" a música.


Essas ações reforçam como Katy sempre usou a criatividade para transformar os lançamentos em verdadeiros eventos culturais. Por isso, o contraste com a divulgação de Smile é tão evidente: a ausência dessas campanhas imersivas e a falta de uma turnê oficial tornam a era muito mais intimista e contida.
Como já mencionado, Never Really Over teve um lançamento altamente aquecido: contou com evento exclusivo para fãs, uma ação especial em que Katy fez tatuagens combinando com dois sortudos e, ainda, pontos de ônibus personalizados com a estética do clipe espalhados por locais estratégicos dos EUA. Fica a pergunta: por que uma música promocional receberia um investimento e destaque tão grandes assim?
Além disso, para o lançamento de "Daisies" em 2020, durante a pandemia de COVID-19, Katy adaptou suas estratégias promocionais ao contexto do distanciamento social. Ela lançou uma loja virtual de flores chamada "Katy's Daisies", onde os fãs podiam enviar buquês digitais personalizados para entes queridos, com mensagens inspiradoras. Cada buquê correspondia a uma faixa do álbum "Smile", reforçando o vínculo emocional com o público. Foi uma forma simples, criativa e de baixo custo de engajar o público com a nova música e, ao mesmo tempo, apresentar aos fãs a possível setlist do álbum.
Ainda assim, por mais inventiva que fosse, essa estratégia era modesta se comparada às grandes ações que Katy já protagonizou em outras eras, sempre com altos investimentos por parte da gravadora. Vale lembrar que, em 2020, o foco da indústria fonográfica estava voltado para o TikTok e para o posicionamento em playlists, já que, com todos em casa durante a pandemia, o impacto viral se tornou o principal termômetro de sucesso.
Outro detalhe curioso: os singles de Smile nunca foram promovidos de forma avulsa. Katy sempre os apresentou em combo, junto com outras músicas da mesma fase. Por exemplo, quando divulgava Daisies, era comum que a performance viesse acompanhada de Never Really Over, mesmo que essa última tivesse sido lançada mais de um ano antes. Isso sugere que a cantora via as faixas como partes de um mesmo corpo emocional e não como momentos isolados.
Além disso, diversos EPs e playlists temáticas foram lançados no Spotify, reunindo músicas antigas e novas com sonoridades semelhantes — como se o Smile fosse menos um novo capítulo e mais uma costura emocional de vivências passadas.

A versão deluxe do Smile reforça ainda mais essa proposta ao reunir faixas lançadas anteriormente, como Small Talk e Never Worn White, consolidando a ideia de que Katy estruturou o álbum como uma carta aberta aos fãs que permaneceram ao seu lado. Além de somar números de vendas e streams, a inclusão dessas músicas serviu para organizar — ainda que de forma um tanto caótica — toda a produção musical que ela lançou entre 2019 e 2020 em um único projeto coeso. O deluxe do álbum Smile também conta com mais 2 versões da faixa Daisies
Dessa forma, tudo indica que Smile não foi pensado como um grande comeback comercial, mas sim como um projeto íntimo e afetivo. Um álbum criado para agradecer, ressignificar dores e cicatrizar feridas. Isso transparece em cada detalhe: desde a mensagem emocionante na última faixa até a ausência das grandes estratégias promocionais que sempre marcaram sua carreira.

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Por fim, o álbum Smile contou com uma edição exclusiva vendida apenas na loja Target, que incluía a faixa bônus High On Your Supply. Curiosamente, mesmo após o fim do contrato de exclusividade — geralmente de 12 meses — a música permaneceu fora das plataformas de streaming por anos. Esse tipo de estratégia não era novidade na carreira de Katy: no álbum Witness, por exemplo, faixas como Act My Age e Dance with the Devil também foram exclusivas da Target, mas posteriormente ganharam lançamento digital, com direito até a performance televisiva em um programa asiático.
No entanto, diferente do que seria esperado — como o lançamento digital de High On Your Supply por volta de 2021 para reaquecer o álbum Smile, prática comum entre artistas pop — a música só foi oficialmente disponibilizada no Spotify de forma totalmente inesperada em 2025, dias antes da nova turnê mundial da cantora. Sem anúncio, sem estratégia de divulgação e sem ligação direta com o repertório da turnê, o lançamento soa mais como um presente aos fãs do que uma movimentação de marketing planejada.

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Entende-se que a era Smile chegou ao fim ainda em 2020, com o lançamento do videoclipe de Not The End Of The World. O clipe, protagonizado por Zooey Deschanel como uma sósia de Katy Perry, serviu como uma despedida simbólica da era, feita com leveza, humor e voltada diretamente aos fãs. Foi uma forma singela de encerrar um ciclo que, desde o início, já dava sinais de ser diferente dos anteriores.

Além disso, recentemente, novas imagens vazadas revelaram cenas de um videoclipe inédito da faixa "Teary Eyes", presente no álbum Smile (2020) de Katy Perry. Nas cenas, a cantora aparece caracterizada como uma estátua, grávida e chorando continuamente, em uma representação simbólica e emocionalmente intensa. Embora o clipe tenha sido descartado pela própria artista ainda em 2020, um breve trecho de aproximadamente 30 segundos circulou online, despertando curiosidade entre os fãs. Curiosamente, a MTV Taiwan chegou a anunciar o lançamento oficial do videoclipe para o dia 25 de maio de 2023, apesar de nenhuma confirmação ter sido feita por Katy Perry ou sua equipe. É importante destacar que o teaser divulgado é fruto de um vazamento, e não há previsão de lançamento oficial do material.
Mas afinal, Smile foi um álbum de descarte?
A sensação que fica, para muitos fãs e críticos, é que sim — e isso se sustenta por uma série de elementos:
A tracklist reúne faixas pessoais com pouca ambição comercial, com letras íntimas e desabafos sobre maternidade, saúde mental e relacionamentos — o oposto da busca por hits. As exceções são os singles lançados em 2019 (Never Really Over, Small Talk, Harleys in Hawaii), que pareciam pertencer a outra estratégia.
Essas faixas de 2019, tratadas inicialmente como avulsas ou “testes”, foram reaproveitadas na versão deluxe do álbum, sugerindo uma tentativa de consolidar o que já existia, em vez de criar algo novo do zero.
Os visuais da era — desde a capa até as peças promocionais — são incoerentes entre si. Misturam materiais de sessões antigas, registros produzidos durante a gravidez de Katy, vídeos em chroma com estética simples e clipes lançados em momentos desconexos. Ao contrário dos álbuns anteriores, conhecidos por sua forte identidade visual e narrativa, Smile parece uma colagem de momentos soltos, com acabamento apressado.
Até o ritual pessoal de Katy — fazer uma tatuagem ao fim de cada era — ficou ambíguo. Durante a divulgação de Smile, ela tatuou uma margarida no dedo, o que muitos atribuíram ao disco (por causa de Daisies), mas a flor também pode ter sido uma homenagem à filha recém-nascida, Daisy Dove. A tatuagem definitiva de encerramento veio apenas anos depois, após o fim da residência Play, em Las Vegas — o que levanta a pergunta: será que Smile foi mesmo considerado por ela uma era digna de “fechamento”?
Diante disso, surge o verdadeiro questionamento: essa aparente bagunça foi uma escolha intencional ou resultado de circunstâncias fora de controle? Foi Katy quem optou por não construir um grande comeback em 2020 — ou ela precisou cumprir contratos, mesmo sem condições ideais, e fez o que podia com o que tinha?
Talvez a resposta esteja entre esses extremos. O mundo vivia uma pandemia. Katy estava vivendo sua primeira gravidez. As gravadoras estavam migrando seu foco para o TikTok e estratégias digitais. E o público já não era mais o mesmo. Em meio a tudo isso, Smile não parece ter sido feito para estourar nas paradas — mas sim para curar, conectar e agradecer. Um álbum afetivo, não explosivo.
Smile, assim, se torna menos um projeto de “descarte” e mais um registro de transição: um álbum que documenta vulnerabilidades reais, feito para quem continuou por perto — não para reconquistar quem se afastou.

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Depois de tantos parágrafos, teorias, achismos e fatos, espero ter conseguido compartilhar um olhar honesto sobre os últimos anos da carreira de Katy Perry — seus altos, baixos, escolhas e contextos que muitas vezes passam batido na superfície. A pergunta que fica é: o que vem daqui pra frente?

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A cantora vive sua melhor fase com a mídia desde 2014, e recentemente afirmou em entrevista que, em breve, entregará aos fãs tudo o que eles merecem. E não é coincidência estarmos em maio — o mês em que Katy historicamente escolhe para lançar seus maiores projetos.
Maio também reserva três eventos importantes para ela: no dia 21, acontece a final do American Idol, programa de maior audiência nos EUA e no qual Katy é jurada — uma vitrine perfeita para novidades. No dia 1º, ocorre o Baile do MET, onde ela costuma se destacar e ser um dos nomes mais aguardados. Apesar de já ter dito que não participará este ano, quem sabe não surge alguma surpresa, né? E no dia 6, ela se apresenta no show de coroação do Rei Charles III, um palco global e uma chance valiosa para cantar algo inédito ou reacender a chama da era pop que os fãs tanto esperam.
Além disso, Katy está trabalhando com uma nova stylist, novos backing vocals e produtores diferentes. Também voltou a usar com frequência a frase “Love. Light.” — um de seus antigos lemas — e anunciou a data final de sua residência em Las Vegas: 4 de novembro deste ano. A despedida da Play pode marcar o fim de um ciclo e, quem sabe, o início de um novo capítulo.
Nos bastidores de meet & greets, ela tem deixado escapar pistas de que deve “ir até seus fãs” no próximo ano — o que aumentou os rumores de uma possível turnê mundial.
Um fã no Twitter recentemente fez uma conexão curiosa entre os atos finais das turnês anteriores de Katy e o início de novos ciclos musicais. Veja a seguir:
Como diz a própria cantora em Never Really Over: JUST BECAUSE IT'S OVER, DOESN'T MEAN THATS REALLY OVER
Por fim, todas biografias de suas redes sociais contém a frase: ""Love is the key that unlocks every door", com a palavra LOVE em destaque. O último ato de sua atual show, em Vegas se encerra com Katy dentro de uma fechadura.

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Será que finalmente vem aí a era Love Light?
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